Arte em forma líquida

Nas mãos de um mixologista, quase tudo é passível de mistura. Do licor de pêssego ao suco de limão, do gim ao morango. Ousadia e criatividade são as palavras de ordem deste profissional, cuja missão é agradar com a combinação certeira de sabores e recordar que, aquela pessoa que visita o bar todas as sextas, prefere uma bebida mais leve às com alto teor alcoólico. Da sua coqueteleira nasce, muitas vezes, o encantamento do cliente pela casa.

Por definição, bartending é o ofício de preparar e servir doses e coquetéis no balcão do bar. O mixologista, contudo, vai além: ele estuda, aprimora-se, pesquisa, busca conhecer o gosto do seu público e o principal, faz experimentos. Sim, ele é quase um cientista na arte de testar combinações. “Só não vale misturar uísque com energético”, avisa o mixologista sorocabano Abiel Carriel, que atua no Olga Bar, em Sorocaba (SP).

O motivo é simples: o uísque, assim como o vinho, é uma das bebidas mais antigas que se tem notícia – os primeiros registros de destilação na Escócia datam de 1494 – e, como tal, merece apreciação exclusiva. Acaso um bom rótulo de vinho permite-se à mistura?. “É muito comum nas baladas o pessoal misturar uísques caríssimos com energéticos, é um ‘crime’”, brinca o mixologista.

Abiel atua na área há mais de 15 anos. Começou como balconista de bar, passando para barman e, finalmente, mixologista. Aqui vale um adendo: barman é o profissional que atua junto ao público, serve as bebidas e vez ou outra se arrisca a criar coquetéis. Já o mixologista é especialista nesta arte: estuda, faz cursos, pesquisa a fundo o que fica bom e o que nunca deve ser misturado no mesmo copo. “Sempre gostei da noite, de trabalhar em bares, saber a história das bebidas e etc. Até me aventuro um pouco em gastronomia.”

Em meio a tantas experimentações, o profissional chegou à harmônica mistura de cachaça, canela e maracujá, a qual batizou de Caipirinha Bela. Já o Lemonska, sua segunda criação, leva licor de limão siciliano, lima-da-pérsia, vodka e xarope. Abiel aconselha sobre o que nunca se deve fazer num bar: “Mudar receitas clássicas, como, por exemplo, tirar o gim do Dry Martini e substituí-lo por rum. Isso é descaracterizar o drink, até dói no coração”.

Entre os pedidos mais inusitados que já recebeu, Abiel conta que, certa vez, um cliente pediu que colocasse açúcar em seu suco de tomate. “Foi bem estranho, e o pior é que ele deve ter tomado uns dois litros (risos)”. Já sobre os coquetéis que mais têm saída no bar, o Negroni lidera a lista, segundo o mixologista. “O pessoal pede bastante, é o mais popular entre os clientes.”

Têm, ainda, a bebida mais pedida por curiosos: aquela que o cliente nunca saboreou e tem vontade de experimentar. “Com certeza é o Dry Martini. Mas a expectativa às vezes não é correspondida. O cliente espera por um sabor e se surpreende com outro.”

Preferência delas

O também mixologista Alyson Andrade divide a coqueteleira do Olga Bar com Abiel. Segundo ele, o coquetel preferido das mulheres é o Cosmopolitan. Adocicado, leva na receita suco de cranberry, vodka e licor doce. “É um drink agradável, que harmoniza bem. Ele é, de fato, bem interessante para elas. Os homens pedem mais o Negroni”, diz.

Alyson conta o que o motiva no dia a dia da profissão: “A satisfação em montar um drink e receber uma resposta positiva do cliente, como, por exemplo, ‘nunca tomei um coquetel como este’. Saio do bar satisfeito, realizado, com a sensação de dever cumprido”.

Sobre as atribuições da função, o profissional recorda que, além de servir ao público e acertar na escolha dos ingredientes, o mixologista deve ter atenção especial com o estoque de bebida e frutas e manter vidros, coqueteleiras e copos sempre limpos. “São os detalhes que fazem a diferença nesta profissão”, conta.

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