‘Cibercondríacos’ se automedicam com base em informações da internet

Um novo perfil de paciente tem tirado o sono dos médicos. O ‘cibercondríaco’ é o indivíduo que, antes mesmo da consulta propriamente dita, já sentou na frente do computador para pesquisar sobre doenças, remédios e afins, e o pior: já até se automedicou. Segundo pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), 84% dos internautas admitiram fazer buscas regulares na web sobre temas relacionados à saúde. E mais: 85% voltam a navegar após as consultas para conferir o prognóstico médico.

“A web fez surgir pacientes mais conscientes e questionadores, que não hesitam em avaliar, com o médico, os riscos e benefícios do tratamento recomendado. Por outro lado, o excesso de buscas em sites nem sempre confiáveis pode levar alguns à automedicação sem qualquer consulta médica, configurando sérios riscos à saúde”, alerta o cardiologista Fábio Lourenço Moraes.

De acordo com o cardiologista, o acesso à internet deixa os pacientes mais seguros para tomar decisões que dizem respeito a eles. “Mas a informação, por mais valiosa que seja, não substitui a consulta com o médico especialista. Além disso, a web tem uma infinidade de blogs e sites nem um pouco confiáveis, que trazem informações sem nenhum embasamento científico e o pior, que induzem o internauta à automedicação”, disse.

O médico recorda que, nas mãos de um hipocondríaco – pessoa viciada em tomar medicamento -, sites de busca podem ter um efeito devastador. “O excesso de informação leva pacientes a tirar conclusões sobre novos remédios ou tratamentos revolucionários em fase experimental, como, por exemplo, a fosfoetanolamina, que ganhou as manchetes recentemente e tem causado alvoroço nas redes sociais pelos supostos efeitos no tratamento do câncer, apesar de não se ter estudos devidamente desenvolvidos para esse tipo de indicação clínica.”

O cardiologista reforça que a internet abriga instituições de reputação duvidosa e até blogs produzidos por leigos que passam a sensação de credibilidade, apesar de, na maioria das vezes, não possuírem conhecimento técnico para isso. “Outro risco é quando o paciente, não buscando o atendimento especializado, deixa de receber o diagnóstico real, já que um mesmo sintoma ou sinal clínico pode sinalizar diferentes tipos de problemas.”

Nos EUA, uma pesquisa da The Harris Poll é enfática: a internet virou mesmo uma extensão do consultório médico. O estudo revelou que a parcela da população que acessa temas ligados à saúde em sites especializados cresceu de 53% em 2005 para 71% em 2007.

Na Europa, segundo dados da socióloga Hege Kristi Andreassen, do Centro de Telemedicina da University Hospital of Northern Norway, o fenômeno se repete. Países como Alemanha, Portugal e Dinamarca registraram índices de 50%, 58% e 71%, respectivamente, entre internautas que vêem na rede mundial de computadores uma forte aliada da saúde.

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