Pesquisa do professor Sydney Aguilar dá o mote a documentário sobre eugenia racial no Brasil

Alunos e docentes da unidade Centro do Objetivo Sorocaba assistiram, na noite de segunda-feira (27), à pré-exibição do documentário “Menino 23”, produzido pela Globo Filmes com direção de Belisario Franca. O filme, baseado na pesquisa do historiador e professor do Objetivo Sorocaba Sidney Aguilar, narra o drama de 50 meninos órfãos submetidos a um regime escravocrata na Fazenda Santa Albertina, em Campina do Monte Alegre (SP), na década de 30, e traz depoimentos comoventes das vítimas deste período.

Tudo começou em 1998, quando Sidney, ao ministrar uma aula sobre a Segunda Guerra, ouviu de uma aluna que havia em Campina do Monte Alegre, no interior de São Paulo, uma fazenda com centenas de tijolos marcados com a suástica, símbolo nazista. A menção da aluna despertou a curiosidade do professor Aguilar, dando início à pesquisa que trouxe à tona a história dos 50 meninos órfãos escravizados na fazenda de Osvaldo Rocha Miranda – grande empresário de sua época.

“A ponta do novelo foi em 1998, quando uma aluna revelou a existência de tijolos com o símbolo nazista na fazenda da família. O documentário caminha pela pesquisa e vai além. É a história da história”, conta o professor Aguilar. Pouco a pouco, o filme mostra como o historiador avançou com a sua investigação, revelando que, além de fatos, ele também descobriu vítimas. Os 50 meninos negros, retirados de um orfanato do Rio de Janeiro, foram submetidos durante dez anos a trabalhos forçados e isolamento social, além de sofrerem violência de toda sorte.

Como pano de fundo, a produção mostra o auge do movimento eugenista no Brasil, nas décadas de 20 e 30, que reunia entusiastas do integralismo e nazismo, em sua maioria, proprietários de grandes terras, empresários e gente da alta sociedade. Aloísio Silva, um dos sobreviventes da Fazenda Santa Albertina, lembra a terrível experiência que escravizou os meninos ao ponto de privá-los do uso de seus nomes, transformando-o no número “23” – que dá nome ao documentário.

A investigação culmina com a descoberta de Argemiro, outro sobrevivente de Campina do Monte Alegre. Sua trajetória reforça ainda mais como os conceitos de “supremacia branca” e as tentativas de “branqueamento da população” marcaram a sociedade, deixando sequelas devastadoras até os dias de hoje. Sendo o racismo e – mais ainda – a negação do mesmo, as mais permanentes.

Para o diretor do Objetivo Sorocaba, Carlos Eduardo D’Andretta, trabalhos como este devem ser estimulados entre os docentes. “Nós, enquanto instituição de ensino, temos o dever de estimular, valorizar e dar oportunidade a todos os professores pesquisadores para que possam aprimorar o conhecimento e desenvolver suas pesquisas em seus campos de atuação. O documentário é altamente relevante pois, quando nos deparamos com temáticas históricas – que remetem a um passado sombrio como o da Segunda Guerra Mundial – percebemos que são extremamente atuais, que estão em evidência até hoje”, disse.


O educador faz uma analogia entre a história e a figura de uma moeda. “Ambas tem dois lados e, muitas vezes, só nos é revelado a face da coroa, mais bela, mais conveniente. Hoje conhecemos o lado da cara, que nos leva à reflexão acerca dos valores humanos e de como ideologias e pensamentos antigos permeiam nosso presente até hoje. Rastros de intolerância que assombram os dias atuais”, declarou o diretor.

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