Ainda pouco difundida, a cirurgia oncoplástica tem revolucionado as cirurgias de tratamento do câncer de mama. A intervenção consiste no tratamento cirúrgico dos tumores da mama (remoção do tumor com margens cirúrgicas, avaliação de linfonodos axilares) e, na mesma cirurgia, realizar-se a reconstrução da mama com o uso de técnicas da cirurgia plástica. Mas não somente isso, a outra mama também poderá ser operada, havendo simetria de ambas.
Dependendo do tamanho da mama e do tumor, o procedimento pode requerer a mastectomia (ressecção completa) – seguida imediatamente pela cirurgia de reconstrução – ou a quadrantectomia (retirada de parte da mama). O objetivo é que a paciente saia da sala de cirurgia já com as duas mamas reconstruídas (podendo-se, para isso, utilizar-se até de implantes mamários), diminuindo, assim, o trauma emocional da cirurgia.
“No passado, a cirurgia de câncer de mama já foi muito mutiladora e de efeitos emocionais avassaladores. Com a evolução da quimioterapia e radioterapia, houve uma diminuição progressiva no tamanho das cirurgias (porções menores podem ser retiradas sem afetar o resultado do tratamento). Assim, a cirurgia para tratamento do câncer de mama diminui de porte, isto é, cada vez menos há necessidade de se retirar toda a mama. A cirurgia oncoplástica, contudo, é um passo à frente e busca, através da reconstrução mamária, preservar também a saúde mental e socioafetiva da paciente. Estudos comprovam que a evolução pós-operatória está diretamente ligada ao quadro psicológico da pessoa”, explica o médico mastologista, Gilson Stevão, o primeiro médico mastologista a realizar totalmente o procedimento em Sorocaba, em dezembro do ano passado. Já houve, contudo, cirurgias realizadas combinadamente por mastologistas em conjunto com a equipe de cirurgia plástica.
O termo oncoplastia foi cunhado inicialmente na década de 90, a partir de cirurgias realizadas pelo médico alemão Werner Audretsch. De lá para cá, o método foi alvo de uma série de questionamentos por parte da classe médica – acreditou-se por muito tempo que a reconstrução imediata da mama e que o uso de implantes poderiam “mascarar” possíveis recidivas do câncer ou até mesmo favorecer seu desenvolvimento.
“Os dois primeiros anos após a operação inicial (oncoplástica ou não) são os mais críticos, quando há mais chances de o tumor voltar. Devido a este fator, por muito tempo questionou-se que, se a paciente fizesse a reconstrução imediata da mama, qual seria o comportamento biológico de uma possível volta da doença, já que a área seria alterada pela cirurgia ou pela presença de um implante mamário. Entretanto, pesquisas realizadas no mundo todo, inclusive na Europa e Estados Unidos, comprovaram que a oncoplastia não piora o quadro da paciente, pelo contrário, impactava-a de maneira muito positiva”, destacou.
Gilson Stevão recorda que não se trata de um novo tratamento contra o câncer, mas um método cuja proposta é fazer com que a mulher se sinta melhor, com a autoimagem preservada. De acordo com o especialista, as cirurgias oncoplásticas ganharam mais força nos países latino-americanos, onde as mulheres tendem a ser mais vaidosas. “Nos Estados Unidos e países da Europa, a preocupação maior é com a saúde propriamente dita. Já as mulheres latinas preocupam-se tanto com a erradicação da doença quanto com a questão estética”, detalha.
A intervenção, destaca Stevão, está no rol de Procedimentos e Eventos do SUS (Sistema Único de Saúde). “Toda paciente tem direito à oncoplastia, mas pouco se fala à respeito”. O médico detalha a diferença entre a cirurgia oncoplástica e as cirurgias plásticas convencionais.
“A cirurgia plástica tem um apelo mais estético, está inicialmente destinada a mulher que não tem doença na mama. Já a oncoplastia tem como alvo, além do tratamento do câncer de mama, a reconstrução e simetria das mamas e a saúde emocional da mulher. Isto é, o foco da oncoplastia, além de erradicar o câncer, é recuperar as mamas da melhor maneira possível na mesma cirurgia”, explica.