O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica) conduzido entre 2013 e 2014 por várias universidades e financiado pelo Ministério da Saúde revelou um dado preocupante: 8,4% dos brasileiros de 12 a 17 anos estão obesos. Para piorar, 9,6% deles sofrem de hipertensão. O estudo afirma que quase um quinto dos adolescentes hipertensos poderia não ter esse problema caso não fossem obesos.
Os pesquisadores avaliaram cerca de 85 mil adolescentes e pré-adolescentes de escolas públicas e privadas de 124 municípios do Brasil com mais de 100 mil habitantes. As taxas mais baixas de hipertensão foram registradas nas regiões Norte e Nordeste (8,4% em cada uma); e a mais alta, na região Sul (12,5%). O número de obesos acompanha essa tendência: índices menores no Norte e no Nordeste, e maiores no Sul do país.
Embora não seja uma regra sem exceções, grande parte das crianças e adolescentes obesos também terá obesidade na idade adulta. Isso porque, além de carregarem os determinantes genéticos, tendem a manter os erros nutricionais e socioculturais que desencadeiam e agravam os mecanismos geradores do ganho excessivo de peso. Portanto, todas as medidas educacionais são essenciais para a prevenção da evolução do quadro de obesidade.
Especial atenção deve ser dada a pacientes com histórico familiar de obesidade, diabetes e hipertensão arterial. Na vida moderna já se observa, como fenômeno mundial, o aumento de casos de diabetes tipo 2 (que normalmente é desencadeado na idade adulta) em crianças e adolescentes. O fato tem sido associado ao aumento de peso e ao maior sedentarismo devido às facilidades eletrônicas para o lazer, como os joguinhos computadorizados, além do aumento da oferta de alimentos, sobretudo os fast foods.
“O controle da obesidade é de extrema importância, principalmente na infância e adolescência, quando todos os hábitos se formam. Infelizmente, o mundo moderno favorece o sedentarismo: televisão, jogos eletrônicos e internet, entre outras tecnologias, são a preferência da maioria das crianças e adolescentes em detrimento à prática de atividades físicas”, destacou a endocrinologista Tatiana Camargo Pereira Abrão.
Tatiana destaca que muitas famílias não vêm a obesidade como uma doença, o que faz com que se demore a procurar ajuda. “Alguns pais não encaram a obesidade como algo que precise de uma intervenção, um tratamento, comprometendo a saúde da criança no futuro. Dependendo da predisposição genética, ela poderá apresentar aumento dos índices de colesterol e triglicérides, diabetes tipo 2, aumento da pressão arterial e até mudanças hormonais”, alerta.
Contudo, recorda Abrão, não é só a saúde física que acaba prejudicada. “Crianças e adolescentes que têm uma aparência fora dos padrões pré-estabelecidos pela sociedade costumam sofrer discriminação, o que pode ser muito prejudicial para a autoestima deles. É importante ressaltar que o excesso de peso não é a única consequência nociva de uma má alimentação na infância. A criança pode não ter propensão ao acúmulo de gordura, mas se sua rotina alimentar for pobre em nutrientes e rica em açúcar, sal e gordura, ela certamente desenvolverá outros problemas de saúde, a curto ou a médio prazo”, disse.