Comer mais no inverno é uma tendência natural dos seres humanos e animais. O problema é que a maioria das pessoas que exagera na ingestão de calorias nesta época, acha que pode voltar à forma física ideal – ou adquiri-la – da noite para o dia ou assim que o verão chegar, por exemplo. O educador físico, bacharel em nutrição e pós-graduado em nutrição esportiva pela USP, Alexandre Gonzales, atua há 18 anos na área e tem uma opinião categórica a respeito: “um corpo sarado não surge em dois ou três meses”.
O consumo alimentar exagerado no inverno tem raízes antropológicas. “A causa está na não evolução do ser humano neste sentido”, resume a psicóloga formada pela PUC-SP, Patrícia Tavares. No passado, ter sobrepeso não representava risco à sobrevivência. Muito pelo contrário. O grande problema era, na verdade, ficar desnutrido, pois, no inverno, os alimentos se tornavam escassos. “Resumindo, nossos ancestrais foram fisiologicamente programados para comer mais no inverno, mas nós não conseguimos lapidar essa herança paulatinamente, ao longo do ciclo evolutivo da nossa raça”, define.
Para piorar o quadro, recentemente, pesquisadores da Universidade de Exeter, da Inglaterra, concluíram um estudo onde comprovaram que o homem contemporâneo tem à disposição alimentos muito mais calóricos do que necessita.
Patrícia, que também é MBA em educação pela Universidade de Santo Amaro, pós-graduada em psicologia pelo Instituto de Formação Sistêmica de Florianópolis, consultora de negócios e especialista em gestão educacional, explica que para chegar a essa conclusão, os autores do estudo utilizaram um modelo computacional no qual calcularam quanto de gordura diferentes espécies deveriam armazenar, tomando como base a ideia de que a seleção natural forneceu aos animais (inclusive ao homem) uma estratégia perfeita para manter um peso saudável.
Tanto Alexandre, quanto Patrícia basicamente identificam os mesmo pontos de vulnerabilidade que fazem os dígitos da balança irem ladeira acima no inverno. Um deles, muito comum, é a crença de que tomar sopas à base de creme de leite, batatas e mandioquinha é menos calórico que outros tipos de pratos. “Isso nada mais é que enganar a si próprio”, diz Patrícia. “Na nutrição, o conceito de curto prazo é perigoso”, enfatiza Alexandre. “Manter o autocontrole, não deixando os fatores externos influenciarem na quantidade ou qualidade da alimentação também é imprescindível, tanto quanto a prática regular de atividades físicas e alimentação saudável durante todo o ano”, finaliza.