Mais de 200 estudantes e profissionais de diferentes áreas ligadas à saúde (como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros) compareceram, na noite de 12 de setembro, à Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS) da PUC-SP para assistir à apresentação de Ana Cláudia Quintana, geriatra e autora do best-seller “A morte é um dia que vale a pena ser vivido”.
O convite à médica e escritora foi feito pelo núcleo da PUC-SP da International Federation of Medical Students Association (IFMSA), como parte da programação intitulada “Dying: morrer é humano”, realizada nesse dia e também na véspera.
A palestra de Ana Cláudia girou, basicamente, em torno da temática do seu principal livro. Contudo, e sempre de maneira bastante clara e direta, ela abordou temas pontuais ligados à terminalidade da vida. Contou que, atualmente, ela está envolvida, por meio da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, na identificação das faculdades brasileiras de Medicina que oferecem a disciplina Cuidados Paliativos em suas grades. “Está sendo um grande aprendizado perceber que esse tema não está acessível a ninguém”, declarou.
Sobre esse ponto (os cuidados paliativos e a fase terminal da existência humana), e enfatizando que suas abordagens poderiam parecer centradas na medicina, mas, de fato, se aplicam a todas as profissões da saúde, Ana Cláudia afirmou: “O que temos pela frente dependerá de vocês. Tudo o que posso fazer eu estou fazendo, mas não estarei viva por tempo suficiente para ver este mundo da graduação se transformar de maneira favorável para o aprendizado que contempla atitudes básicas, como, por exemplo, aquelas ligadas à comunicação; ao respeito à autonomia; à capacidade de compreender que, muitas vezes, o rim tem indicação de diálise, mas o dono do rim não [tem]; isso não nos é ensinado”, enfatizou.
Ana Cláudia observou que a lacuna no ensino não deve servir como desculpa para a inércia dos profissionais diante das situações que envolvem o fim da vida. “Não é porque não tem isso na sua faculdade que você vai se conformar e dizer que não poderá fazer nada quando tiver, à sua frente, alguém em estado de extrema fragilidade”, alertou.
Mais adiante, teceu críticas às condutas pouco humanizadas na área da saúde. “Conformar-se em maltratar uma pessoa porque ela não tem prognóstico, abandonar uma pessoa sob os seus cuidados ou humilhar uma família, infelizmente, é o que se faz hoje”, lamentou. “A prática habitual dos médicos é fazer com que as pessoas que adoecem e entram numa fase final de vida se sintam fracassadas, sintam que devem pagar o preço de terem decepcionado a medicina em relação ao tratamento proposto para a sua doença. Isso está errado.”