O autismo, ou Transtorno de Espectro Autista (TEA), como é denominado atualmente, é uma condição de saúde caracterizada pela dificuldade de comunicação e/ou nas relações sociais, por comportamentos mais repetitivos e interesses restritos, de formas mais fixas e intensas. A data de 2 de abril é reservada para se discutir a questão em nível mundial.
O professor do Departamento de Reprodução Humana e Infância no Ambulatório de Neurologia Infantil da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS) da PUC-SP e mestrando em Educação em Saúde, Danilo de Assis Pereira, explica que se trata de um transtorno ligado ao neurodesenvolvimento do indivíduo, que se manifesta no início da vida ou quando as demandas sociais excedem as capacidades da criança. “Normalmente, ele acarreta prejuízos no funcionamento social, pessoal, acadêmico ou profissional”, detalha.
Segundo uma análise de 2016 feita pelo Morbidity and Mortality Weekly Report (MMWR), por meio do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), uma em cada 54 crianças de até 8 anos de idade foi identificada com autismo. A maioria dos estudos indica a genética como a principal causa do TEA. De acordo com o professor da FCMS, existem mais de 900 genes mapeados e apontados como fator de risco para o transtorno. “Um estudo de 2019, realizado com mais de dois milhões de pessoas em cinco países, apontou que entre 97% e 99% dos participantes com TEA apresentavam alteração genética que justificava o problema”, revela.
O diagnóstico precoce do transtorno contribui muito para o tratamento e bem-estar do portador. “Infelizmente, no Brasil, ele costuma levar entre quatro e cinco anos, o que é muito ruim”, destaca o professor Danilo. “Alguns sinais podem aparecer muito cedo, por isso, é extremamente importante que os pais e os profissionais da saúde e da educação estejam atentos a eles. Quanto mais cedo começarmos a estimular a criança, melhores serão os resultados e a sua qualidade de vida”, enfatiza.
De maneira bastante ampla – afinal, o diagnóstico só pode ser feito por um especialista após avaliar as condições clínicas, comportamentais e mentais do paciente –, alguns sinais correlacionados com determinadas faixas etárias podem indicar a portabilidade do transtorno. Confira:
- aos seis meses – poucas expressões faciais, baixo contato ocular, ausência de sorriso social e pouco engajamento sociocomunicativo;
- aos nove meses – não faz troca de turno comunicativa, não balbucia “mamã/papá”, não olha quando chamado, não olha para onde o adulto aponta e imitação pouca ou ausente;
- aos doze meses – ausência de balbucios, não apresenta gestos convencionais (abanar para dar tchau, por exemplo), não fala “mamãe-papai” e ausência de atenção compartilhada.
O grande benefício do diagnóstico, sobretudo quando estabelecido precocemente, é ajudar o portador de TEA a lidar com as suas dificuldades e estimular as potencialidades que possui. “As intervenções são mais efetivas quando feitas na infância porque o desenvolvimento é mais rápido e o cérebro tem mais capacidade de mudar sua estrutura física. Para qualquer nível de gravidade, o tratamento para o TEA deve ser por terapia”, explica o médico Danilo.
Mesmo sendo pouco abordada, a atenção especial aos cuidadores dos pacientes com TEA é fundamental. “É muito importante olhar e cuidar de quem cuida de uma criança com TEA”, afirma. De acordo com ele, um estudo da Genial Care, de 2020, indicou que as principais dificuldades dos cuidadores de portadores de autismo são planejar o futuro da criança (70%), saber como agir em situações desafiadoras (57%) e ter tempo para o descanso e autocuidados (48%).
O médico e docente da FCMS/PUC-SP também toca num ponto que gerou grande polêmica mundial: as vacinas causam autismo? “A resposta é não”, ressalta. “Lamentavelmente, este assunto ainda gera discussão e cria dificuldades para o acesso das crianças às vacinas”, alerta. “O que poucos sabem é que o estudo que sugeriu esse dado é fraudulento e o médico que o produziu perdeu sua licença.” Toda essa questão, esclarecendo a polêmica, foi tratada em uma das edições da The Lancet – uma das mais antigas e conhecidas revistas médicas do mundo e descrita como uma das mais prestigiadas. “Aliás, o estudo foi replicado e não existe nenhuma evidência de que vacinas possam causar autismo”, assegura Danilo.