Vivemos na era da informação, um dilúvio incessante de dados e opiniões. Paradoxalmente, também é a era da obviedade disfarçada de sabedoria. Uma legião de novos gurus, herdeiros espirituais do inesquecível Conselheiro Acácio de Eça de Queirós, inunda as redes sociais com suas “pílulas filosóficas”, verdades tão universais quanto a existência da gravidade.
Com seu jargão pomposo e frases de efeito vazias, o Conselheiro Acácio enganava os incautos com a ilusão de profunda sabedoria. Hoje, seus descendentes digitais multiplicam-se nas timelines.
Eles nos ensinam, por exemplo, que “o sucesso exige esforço”, que “a persistência é fundamental para alcançar seus objetivos” ou que “é importante acreditar em si mesmo”.
Percepções brilhantes, sem dúvida, dignas de serem esculpidas em pedra e expostas em praça pública. O problema é que essas pérolas de sabedoria, dignas do oráculo de Delfos em seus dias menos inspirados, são vendidas como fórmulas mágicas para a prosperidade, o nirvana emocional e a conquista do universo.
A fórmula é simples: pegue uma obviedade, embrulhe-a em um discurso pseudocientífico, salpique com algumas frases de efeito e voilà! Você tem a receita perfeita para conquistar seguidores, curtidas e, quem sabe, até alguns incautos dispostos a pagar por “sessões de mentoria” para aprender a “desbloquear seu potencial”.
O sucesso desses Acácios digitais revela uma faceta curiosa da nossa época: a fome por respostas rápidas e fáceis, mesmo que sejam tão profundas quanto um pires.
A ilusão de controle oferecida por essas “verdades absolutas” é reconfortante, ainda que ilusória. Afinal, é mais fácil acreditar em fórmulas mágicas do que encarar a árdua jornada do autoconhecimento e da construção de uma vida plena.
Portanto, da próxima vez que se deparar com um guru digital prometendo o segredo da felicidade em 10 passos simples, lembre-se do Conselheiro Acácio.
Respire fundo, exercite seu senso crítico e pergunte-se: será que essa suposta sabedoria milenar não passa de uma obviedade requentada, pronta para ser servida aos desavisados de plantão?
A resposta, provavelmente, está bem debaixo do seu nariz. Ou, como diria o próprio Acácio: “A verdade, muitas vezes, é mais simples do que parece”.
Para descontrair, algumas frases típicas dos Acácios digitais…
- “A chave para a felicidade está dentro de você.” (Mas cadê a fechadura?)
- “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” (Começando por, talvez, lavar a louça?)
- “Invista em você!” (Comprando meu curso online por apenas R$ 997,00!)
- “Construa sua marca pessoal!” (Com um logo chamativo e frases de efeito vazias.)
- “Vamos empoderar uma jornada disruptiva rumo à excelência.” (Alguém entendeu alguma coisa?)
- “Networking é tudo!” (Principalmente se você for puxa-saco de carteirinha.)
Repare que a maioria dessas frases são verdadeiras, mas de uma forma tão genérica e superficial que perdem qualquer significado prático. A arte do Acácio está em inflar essas obviedades com jargões da moda, criando a ilusão de profundidade e conhecimento.
