Desde que o AutoCAD foi lançado pela Autodesk, em dezembro de 1982, o mundo da construção civil nunca mais experimentou uma inovação tecnológica tão significativa quanto o BIM (Building Information Modeling, ou Modelagem de Informações da Construção). “Desde que começamos a utilizar esta plataforma, otimizamos significativamente nossos processos e temos ainda mais segurança de que o que projetamos será executado sem sobressaltos ou surpresas nos canteiros de obras”, sintetiza Marcos Fialho, gerente de Engenharia da Construtora Alavanca.
O software BIM, também da Autodesk, promove um método avançado de trabalho colaborativo por meio de um modelo criado com informações coordenadas e consistentes. O processo viabiliza a tomada de decisões nas etapas iniciais do projeto, o desenvolvimento de documentação de melhor qualidade e a avaliação de alternativas para o projeto sustentável ou melhorias, usando a análise antes do início da construção.
Apesar dos benefícios que proporciona, o BIM ainda não é utilizado em grande escala. Isso se justifica pelo custo da sua licença (em torno de R$ 45 mil anuais, mais taxa de, aproximadamente, 30% ao ano para ter acesso às atualizações) e pela necessidade de treinamento dos usuários. “Quando decidimos adquirir a tecnologia, contratamos dois profissionais que se dedicam ao desenvolvimento dos nossos projetos no BIM em tempo integral”, conta Fialho.
Na prática e muito resumidamente, o BIM permite planejar toda a construção, desde um cômodo até um edifício com dezenas de pavimentos. A riqueza de detalhes é impressionante e existe a capacidade de acusar eventuais conflitos.
“Imagine que, por um erro, o projeto de hidráulica indicou que um encanamento passasse por uma parede para a qual foi sugerida uma tomada pela equipe de elétrica”, conta Fialho. “Até então, esse problema, caso não fosse identificado na unificação dos projetos de elétrica e hidráulica (o que não seria muito difícil de acontecer), só seria descoberto no canteiro de obras e geraria a interrupção dos trabalhos, algumas reuniões, alterações na planta e, consequentemente, a solicitação de novas aprovações pelos órgãos competentes. Isso resultaria num significativo atraso na construção”, explica. “Com o BIM, os conflitos são apontados com alerta imediato, permitindo a correção da falha ainda no escritório. ”
A tecnologia faz com que se gaste menos tempo na fase dos projetos. “Os trabalhos estruturais, elétricos, hidráulicos e arquitetônicos são sintetizados automaticamente e visualizados em 3D ou de forma segmentada”, reforça Fialho. A segmentação à qual ele se refere é um espetáculo tecnológico à parte: “Conseguimos ver desde o detalhe de um ralo e a distância que uma tomada terá do rodapé até as rotas das tubulações hidráulicas e elétricas”, enumera. Isso sem falar na quantificação dos itens. “Quando se insere uma porta num cômodo, por exemplo, o software calcula quantas dobradiças, maçanetas e batentes serão necessários em toda a obra. Ele também recomenda de quantos metros de canos e quantas conexões precisaremos, por exemplo.”
O BIM já começou a revolucionar o mercado que gira em torno das construtoras. Os comentários no setor são de que os principais agentes financeiros deverão, num curto espaço de tempo, exigi-lo para liberar os financiamentos imobiliários. “A explicação é simples”, pondera o gerente de Engenharia. “Em questão de minutos, eles poderão avaliar a viabilidade e autenticidade do empreendimento. Hoje, essa análise, feita pelo métodos convencionais, costuma levar dias ou semanas.”
As fabricantes de materiais de construção também já aderiram ao BIM. Gigantes como Tigre, Docol e Deca, para citar apenas três, já disponibilizam os desenhos das suas peças. “Isso elimina a necessidade de que seja desenhada virtualmente, atividade que exige certo tempo. Afinal, os traços devem obedecer a todas as medidas e especificações do objeto, seja ele uma simples tomada ou os componentes que formarão o sistema de ar-condicionado.”
A Construtora Alavanca já utilizou o BIM nos projetos do EcoPark (360 apartamentos), finalizado há oito meses, e a aplica, atualmente, aos projetos dos residenciais Nice, Marselha e Limoges que deverão totalizar 950 unidades habitacionais. “O BIM é o futuro”, sintetiza Fialho. “Daqui a alguns poucos anos, não consigo imaginar uma construtora, um escritório de engenharia ou um projetista que não utilize a tecnologia”, antecipa. “Seria, numa analogia simplista, como você enviar uma mensagem para um outro canto do planeta por carta, tendo à sua disposição os serviços de e-mail”, brinca.