Maus hábitos alimentares, excesso de peso, circunferência abdominal acima do ideal e, numa escala bem menor, fatores genéticos são os principais responsáveis pela hipertrigliceridemia, patologia caracterizada pelos altos níveis dos triglicerídeos e que não costuma apresentar sintomas físicos. De acordo com estatísticas, o problema atinge, aproximadamente, uma em cada três pessoas, sendo mais comum entre os homens maduros.
“Contudo, a hipertrigliceridemia também pode afetar mulheres, jovens, crianças e idosos”, alerta a endocrinologista Larissa Teles Sanches, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Em seu consultório, na cidade de Sorocaba, cerca de 20% dos pacientes que a procuram apresentam o problema. “É uma taxa altíssima”, afirma.
No caso das crianças, a médica orienta para um detalhe que, muitas vezes, passa despercebido, e pode resultar em diagnósticos equivocados: o jejum para realizar exames deve ser de doze horas. “Normalmente, os bebês mamam de três em três horas e, quando o período adequado do jejum não é respeitado, o resultado será substancialmente alterado.”
A hipertrigliceridemia aumenta o risco de doenças do coração. Porém, a grande preocupação ainda é a inflamação do pâncreas, um mal conhecido como pancreatite. O pâncreas é uma glândula de, aproximadamente, 15 centímetros, que produz enzimas e proteínas importantes para transformações químicas no organismo. “A pancreatite merece muita atenção, pois pode levar à morte”, explica Larissa.
O tratamento para a hipertrigliceridemia pode ser medicamentoso, mas o principal é, indiscutivelmente, mudar hábitos alimentares e de vida, como praticar atividade física e não ingerir álcool. “Há pouco tempo, uma jovem de 20 anos chegou ao meu consultório com taxa de triglicérides batendo os 13 mil, quando o normal para um adulto é um valor igual ou inferior a 150”, relembra a médica. A paciente precisou ser internada imediatamente, sob o risco de desenvolver uma pancreatite. “No hospital, após uma dieta balanceada, a taxa caiu para mil em apenas quinze dias, o que demonstra claramente que a hipertrigliceridemia tem relação direta com o que se come.”
O ômega 3, encontrado em alimentos como peixes, ajuda a reduzir em até 30% as triglicérides. Estudos indicam que usar fibratos por, no mínimo, seis meses também é uma prática eficaz, que diminui em até 7,3% o risco de infarto e morte súbita. “Mesmo pacientes com pequenas elevações, como um índice pouco acima de 200, já apresentam resultados positivos com o tratamento”, compara a especialista.
A elevação dos triglicerídeos no sangue ainda modifica as moléculas de LDL (colesterol ruim), que se tornam menores e densas. “Elas têm uma maior capacidade aterogênica, ou seja, se aderem à parede do vaso sanguíneo e formam placas de gordura.”
Larissa orienta que as pessoas devem acompanhar, periodicamente, seus índices de triglicérides. Para quem sofre de hipertrigliceridemia, os principais vilões são a cerveja, carboidratos e sedentarismo. “Mudando os hábitos e cuidando do seu corpo adequadamente, é possível reverter o quadro e viver bem”, finaliza.