James Barry, a mulher que fingiu ser homem para estudar medicina no século 17

Cesarianas, higienização, saneamento básico: algumas das maiores inovações do século 17 se devem ao cirurgião escocês James Barry, ilustre formando da Universidade de Edimburgo.

Porém, no dia da sua morte, sua reputação foi por água abaixo: descobriu-se que Barry sempre foi uma mulher. Isso numa época em que a medicina poderia ser exercida apenas por homens.

Seu nome verdadeiro era Margaret Ann Bulkley. Nascida em 1789, ela sabia sua vocação desde a infância: cuidar da saúde das pessoas. Porém, devido às convenções sociais da época, seu sonho estava longe de se concretizar.

Para contornar esse obstáculo, a jovem contou com o apoio de seu tio materno, James Barry – de quem emprestou o nome mais tarde. Influente pintor britânico, ele mobilizou amigos renomados (incluindo o general venezuelano Francisco Miranda) para ajudar Margaret a se passar por homem e ingressar na faculdade.

O plano era que, após a graduação, ela se mudasse para a Venezuela.

Margaret tinha um grande apreço pelo conhecimento: devorava livros sobre ciência e medicina, o que lhe deu competência o suficiente para formar-se médica ainda aos 17 anos, em 1814. Durante seus tempos de faculdade, ela se apresentava como James Stuart Miranda Barry.

Porém, mesmo mudando sua aparência, suas roupas, seu penteado e seus costumes, sempre foi alvo de piadas pela sua voz delicada. Talvez foi isso o que mudou sua personalidade: menos tolerante, chegou a matar a tiros um homem que questionou sua masculinidade.

Seus planos de ir à América Latina foram frustrados quando o general Miranda morreu, em 1816. Isso obrigou Margaret a manter segredo sobre sua identidade pelo resto da vida.

A partir de então, ela trabalhou em seu extenso currículo. Foi a primeira cirurgiã a realizar uma cesariana bem-sucedida, na qual tanto a mamãe quanto seu bebê sobreviveram. Geralmente, este tipo de parto era priorizado somente quando a gestante estivesse prestes a morrer.

Outro grande trunfo foi compreender a importância do saneamento básico para controlar a propagação de doenças, como a cólera. 

Margaret ainda foi nomeada Gerente Geral de Hospitais na Inglaterra (comparável ao que é, agora, um Ministro da Saúde). Sua morte veio em 1865, aos 70 anos, devido a uma forte disenteria. A revelação de sua sexualidade se deu por meio da funerária que a preparou para o enterro.

Além de tudo, o corpo mostrava sinais de ter dado à luz um bebê. Até hoje, não se sabe quem foi seu filho.

 

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