Essencial, mas pouco conhecido, o assoalho orbitário é o osso mais delicado do seu rosto. Localizado na cavidade ocular, ele tem espessura comparável a uma folha de papel, tornando-o alvo fácil de fraturas dolorosas.
Como pode-se imaginar, sua reconstrução não é nada simples. Exemplo disso é que, ao sofrer um grave atropelamento em 2002, um jovem britânico teve seu assoalho orbitário rompido, levando seu olho a afundar na cavidade ocular.
Consequentemente, o homem perdeu a capacidade de reconhecer cores, além de não conseguir enxergar com clareza.
Durante três anos, vários cirurgiões buscaram formas de restaurar a delicada placa óssea. Nenhuma obteve sucesso: eventualmente, o paciente era acometido por excruciantes infecções.
A solução veio das mãos do especialista em reconstrução facial Ian Thompson, do King’s College, em Londres. Ele sugeriu o primeiro enxerto de vidro do mundo, modelado para adequar-se com perfeição à cavidade ocular.
O material em questão é o biovidro. Sutilmente, ele se dissolve e libera íons, que ativam o sistema imunológico. Bem-aceito pelo corpo humano, ele estimula a regeneração da estrutura óssea.
Os resultados foram quase imediatos: o paciente recuperou a visão e voltou a reconhecer cores. Hoje, quinze anos depois, ele permanece saudável e ativo.
O biovidro existe desde 1969 e foi criado pelas mãos do cientista americano Larry Hench. Sua inspiração veio de uma conversa com um veterano da Guerra do Vietnã, que comentou: “A medicina moderna consegue salvar vidas, mas não membros do corpo”. Hench, então, dedicou-se a desenvolver um material biônico, que não seria rejeitado pelo organismo.
Hoje, acredita-se que ainda não exploramos todas as possibilidades do biovidro. Aos poucos, ele é estudado para aplicação em novas áreas da medicina e odontologia – seja para dentes, ossos ou articulações.